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quinta-feira, 17 de junho de 2010

NOTA DO CPERS/SINDICATO

A violência nas dependências das escolas do Rio Grande do Sul é reflexo da falta de segurança verificada nas ruas das cidades gaúchas. A falta de política de atendimento à população em áreas essenciais como saúde, educação e segurança reflete as precárias condições de vida da população. Esse atendimento precário divide a sociedade entre aqueles que conseguem sobreviver e aqueles que não conseguem, gerando um ambiente de violência que acaba vitimando a todos.

Para o CPERS/Sindicato, não será com a contratação de empresas privadas de segurança que o governo do estado vai resolver a insegurança enfrentada por alunos e profissionais da educação dentro das escolas da rede estadual. Na tentativa de resolver um problema o governo pode estar criando um outro ainda maior que é a colocação de pessoas armadas sem o devido preparo para garantir a segurança num espaço de socialização.

A segurança nas dependências das escolas e em suas cercanias é de competência da força pública de segurança, no caso, a Brigada Militar que tem preparo para esse tipo de serviço. Ao colocar a segurança nas escolas nas mãos de empresas privadas, o governo se exime da sua responsabilidade. A falta de efetivo para garantir uma segurança pública de qualidade se deve ao mesmo problema verificado com a falta de professores: concurso público.

http://www.cpers.com.br/index.php?&menu=1&cd_noticia=2481
Mãos ao alto, professora
JUREMIR MACHADO DA SILVA*
As palavras mudam de sentido. Muda uma letra, ou duas, e muda tudo. Craque virou crack. Vida de professor transformou-se em atividade de alto risco. Uma professora foi assaltada, em Porto Alegre, dentro da sala de aula, por um adolescente armado com um revólver enferrujado, calibre 32. O guri era ex-aluno da escola. Houve um tempo, perdido nas brumas do passado, em que professores e salas de aula eram sagrados. Levava-se maçã para a professora. Muitas vezes, a professorinha era o primeiro amor, idealizado, impossível, platônico, de um menino. A sala de aula era o lugar da autonomia do mestre, um templo, um palco, a esfera maior do conhecimento. Acabou.

As balas de hoje destinadas aos professores são de revólver. A situação é tão melancólica, para bem e para mal, que o assaltante não tinha munição. Roubou R$ 10,00 da professora. Essa quantia diz muito, diz tudo, grita como o sintoma de uma doença grave, um mal que está aí, bem aí, mas vai sendo empurrado com a barriga. Talvez a professora assaltada seja uma pessoa sensata, aos 58 anos de idade, e não vá para a escola com muito dinheiro na bolsa. Ou quem sabe, escolada, como todos nós, carregue apenas o dinheiro do transporte e o dinheiro do ladrão. Mais provável é que uma professora, na metade do mês, não tenha mais do que R$ 10,00 para carregar no bolso. Esse é o estado das coisas, o estado ao qual chegamos, o caos.

E os governos, que ainda não fizeram a parte deles, não garantiram sequer a integridade dos professores, desandam a falar em meritocracia, transferindo para os professores, que ganham pouco e são agora assaltados dentro das salas de aula, a responsabilidade pela falência do sistema. Ao defender a tal meritocracia, os tecnocratas e os políticos, falsamente racionalistas, estão dizendo que se algo vai mal é por culpa da preguiça ou da incompetência dos professores. Essa é uma das maiores infâmias destes dias melancólicos em que, paradoxalmente, fala-se em sociedade da informação, mas se faz do saber uma categoria de quinta classe. Escolinha como objeto de desejo de pais e alunos, só de futebol. Nelas, talvez o mestre ainda seja respeitado e receba doces. Nem que seja por medo de se perder lugar no time.

Eu ainda sonho com um Brasil voltado para a escola como espaço sagrado. Isso só acontecerá a partir do momento em que se considerar o ensino como primordial e os salários forem melhorados a ponto de alterar a vida cotidiana e cultural dos mestres. Um professor precisa ganhar o suficiente para comprar livros todo mês, ir ao cinema, ao teatro, a shows, a bons restaurantes, viajar e sempre ampliar horizontes. Quem não valoriza, não pode cobrar desempenho. Mesmo assim, como se diz popularmente, os professores desempenham, "na moral". Sonho com o dia em que será impossível um ex-aluno ou um aluno apontar uma arma para uma professora. Por respeito, por veneração, por amor. Ou, cinicamente, sonho com o dia em que, ao menos, a professora terá R$ 50,00 na sua bolsa.

JUREMIR MACHADO DA SILVA é professor e jornalista

* Artigo publicado no Jornal Correio do Povo, edição do dia 17 de junho de 2010.

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