18/08/12 | 09:41
Certas questões fazem lembrar aqueles velhos carros que só pegavam no tranco. Era o momento em que o dono percebia que a oficina mecânica era o destino mais sensato. A exemplo do carro, de tempos em tempos um assunto ressurge no Estado, provocado por algum episódio, e a sociedade leva uma espécie de tranco – e todos se dão conta de que deixaram de lado as soluções. O último, mais uma vez, está ligado à educação. Nesta semana, pesquisa mostrou que o ensino fundamental e médio do Rio Grande do Sul é um dos piores do país, lanterninha na Região Sul – e todos parecem ter levado um susto.
Mas aqui entre nós: alguém se surpreendeu?
A nova pesquisa em busca do Índice de Desenvolvimento da Educação mostrou que nas séries iniciais do Ensino Fundamental o Rio Grande do Sul atingiu 5,1 – o que o deixa em 10º lugar, bem atrás do segundo de Santa Catarina e do quarto do Paraná. Nos anos finais, o Estado chegou a 4,1 e baixou para o 12º. Santa Catarina ficou na liderança. No Ensino Médio, o desastre é pior: chegou a 3,7 de nota, em oitavo lugar. De novo os catarinenses apareceram em primeiro lugar. Nada estranho para um Estado que investe cada vez menos, desmoraliza os professores e, em vez de investir forte na educação, tenta muitas vezes – por pura birra – apenas partir para o confronto em uma tentativa de desmoralizar as lideranças do magistério. E não é culpa de um governo – é uma sucessão de equívocos no tratamento do ensino, que vem de muito longe. Só que um dia a bolha estoura.
No dia seguinte à pesquisa, o jornal Zero Hora foi atrás da melhor escola no Estado. Sabem qual o segredo da Escola Municipal Giuseppe Tonus? A prefeitura de Vista Alegre do Prata investe 25% do orçamento em educação. A escola tem biblioteca, quatro laboratórios, quadra de esportes e os professores, além de bons salários, ainda têm quatro horas remuneradas fora do ambiente escolar para fazer o planejamento das aulas. Não só. Há envolvimento da comunidade com a vida escolar. Pais não ficam ausentes, como em muitos lugares. Alguém certamente vai lembrar que em municípios menores é mais fácil, mas por que os outros não fazem? Além disso, guardadas as proporções, a regra do investimento vale para qualquer cidade, independentemente do tamanho.
Alguns outros detalhes reforçam esta ideia. O principal colégio particular de Porto Alegre, de acordo com outra pesquisa divulgada há pouco, é o que paga os melhores salários aos professores. Entre as escolas públicas líderes estão as militares e os colégios de Aplicação, todos federais – melhores salários e estruturas mais adequadas ao ensino, dentro da característica de cada um (mais rigor na disciplina em um, mais liberalidade no outro). Ou seja: se você for examinar com cuidado os melhores, aqui ou em outros Estados, verá que o padrão de qualidade está sempre vinculado a estrutura e melhores salários. Pior é ouvir e ler os chamados ‘especialistas’ insistirem na tese de que os salários dos professores não têm nada a ver com melhora do ensino. Mas como ter os principais mestres se eles não forem atraídos por bons rendimentos e carreiras bem organizadas?
Há pelo menos 20 anos ouvi uma entrevista inquietante do ex-reitor da Pontifícia Universidade Católica Noberto Rauch, falecido em 2011, homem com larga experiência no ensino. Ao examinar a lista de inscritos para os vestibulares da PUC e por viver o ambiente do magistério, Rauch fez a previsão de que em poucas décadas os cursos de licenciatura começariam a ser fechados – ou desvalorizados – por falta de interessados. Se não há uma perspectiva sólida de carreira por que o jovem mais talentoso vai se interessar?
É evidente que ainda há aqueles que movidos apenas por ideais encaram as dificuldades e seguem em frente, apesar de todo o abandono, e dão dignidade à profissão, mas uma boa educação não pode ficar na dependência apenas desta parcela de mestres dedicados. Ela precisa de uma reconstrução geral, dos mestres aos prédios, das salas aos programas pedagógicos. É algo óbvio – mas é surpreendente como muitas vezes o óbvio não é percebido. Os governos pouco fazem, a população e a própria imprensa só se lembram do magistério em dias de incômodos provocados pelas greves (ou de pesquisas como a atual) e os prefeitos trocam investimento em educação por qualquer trecho com 10 metros de asfalto.
Enquanto as soluções não surgirem, continuaremos vivendo aos trancos – com reações falsamente escandalizadas a cada pesquisa como a desta semana.
Do blog mariomarcos.wordpress.com
http://sul21.com.br/jornal/2012/08/a-educacao-gaucha-e-reprovada-alguem-se-surpreende/
Por Júlio César Pires de Jesus, Professor e Vice-Diretor do 14º Núcle/CPERS-Sindicato.
Mas aqui entre nós: alguém se surpreendeu?
A nova pesquisa em busca do Índice de Desenvolvimento da Educação mostrou que nas séries iniciais do Ensino Fundamental o Rio Grande do Sul atingiu 5,1 – o que o deixa em 10º lugar, bem atrás do segundo de Santa Catarina e do quarto do Paraná. Nos anos finais, o Estado chegou a 4,1 e baixou para o 12º. Santa Catarina ficou na liderança. No Ensino Médio, o desastre é pior: chegou a 3,7 de nota, em oitavo lugar. De novo os catarinenses apareceram em primeiro lugar. Nada estranho para um Estado que investe cada vez menos, desmoraliza os professores e, em vez de investir forte na educação, tenta muitas vezes – por pura birra – apenas partir para o confronto em uma tentativa de desmoralizar as lideranças do magistério. E não é culpa de um governo – é uma sucessão de equívocos no tratamento do ensino, que vem de muito longe. Só que um dia a bolha estoura.
No dia seguinte à pesquisa, o jornal Zero Hora foi atrás da melhor escola no Estado. Sabem qual o segredo da Escola Municipal Giuseppe Tonus? A prefeitura de Vista Alegre do Prata investe 25% do orçamento em educação. A escola tem biblioteca, quatro laboratórios, quadra de esportes e os professores, além de bons salários, ainda têm quatro horas remuneradas fora do ambiente escolar para fazer o planejamento das aulas. Não só. Há envolvimento da comunidade com a vida escolar. Pais não ficam ausentes, como em muitos lugares. Alguém certamente vai lembrar que em municípios menores é mais fácil, mas por que os outros não fazem? Além disso, guardadas as proporções, a regra do investimento vale para qualquer cidade, independentemente do tamanho.
Alguns outros detalhes reforçam esta ideia. O principal colégio particular de Porto Alegre, de acordo com outra pesquisa divulgada há pouco, é o que paga os melhores salários aos professores. Entre as escolas públicas líderes estão as militares e os colégios de Aplicação, todos federais – melhores salários e estruturas mais adequadas ao ensino, dentro da característica de cada um (mais rigor na disciplina em um, mais liberalidade no outro). Ou seja: se você for examinar com cuidado os melhores, aqui ou em outros Estados, verá que o padrão de qualidade está sempre vinculado a estrutura e melhores salários. Pior é ouvir e ler os chamados ‘especialistas’ insistirem na tese de que os salários dos professores não têm nada a ver com melhora do ensino. Mas como ter os principais mestres se eles não forem atraídos por bons rendimentos e carreiras bem organizadas?
Há pelo menos 20 anos ouvi uma entrevista inquietante do ex-reitor da Pontifícia Universidade Católica Noberto Rauch, falecido em 2011, homem com larga experiência no ensino. Ao examinar a lista de inscritos para os vestibulares da PUC e por viver o ambiente do magistério, Rauch fez a previsão de que em poucas décadas os cursos de licenciatura começariam a ser fechados – ou desvalorizados – por falta de interessados. Se não há uma perspectiva sólida de carreira por que o jovem mais talentoso vai se interessar?
É evidente que ainda há aqueles que movidos apenas por ideais encaram as dificuldades e seguem em frente, apesar de todo o abandono, e dão dignidade à profissão, mas uma boa educação não pode ficar na dependência apenas desta parcela de mestres dedicados. Ela precisa de uma reconstrução geral, dos mestres aos prédios, das salas aos programas pedagógicos. É algo óbvio – mas é surpreendente como muitas vezes o óbvio não é percebido. Os governos pouco fazem, a população e a própria imprensa só se lembram do magistério em dias de incômodos provocados pelas greves (ou de pesquisas como a atual) e os prefeitos trocam investimento em educação por qualquer trecho com 10 metros de asfalto.
Enquanto as soluções não surgirem, continuaremos vivendo aos trancos – com reações falsamente escandalizadas a cada pesquisa como a desta semana.
Do blog mariomarcos.wordpress.com
http://sul21.com.br/jornal/2012/08/a-educacao-gaucha-e-reprovada-alguem-se-surpreende/
Por Júlio César Pires de Jesus, Professor e Vice-Diretor do 14º Núcle/CPERS-Sindicato.
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Um comentário:
Resposta ao pedido Pedido de informação nº 3588 atendendo a lei da transparência no dia 01/02/2012
Prezado cidadão, em atendimento a sua solicitação, seguem abaixo os dados:
Total de Convocações até 20 hs em 31/07/2012
Tipo 1 qtde Id.func 863 (opção - incorporada)
2 1018 (necessidade de ensino Lei 6672)
3 1145 (necessidade de serviço Lei 9231)
4 1563 (Gratificação Direção)
5 1384 (Lei 10576/6595)
6 177 (incorporado - inativo)
7 7899 (Lei 11005 com fonte de custeio)
Estes dados revelam que o Estado do RS não dá valor nenhum a educação e esta transformando esta profissão em sub- emprego. E o secretário da Ed. diz que gastará 40 milhôes em formação....jogará dinheiro fora, pois não tem grupo efetivo de trabalho.
TRISTE NOSSO FUTURO!!!
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