Marcia Leite* - 20.05.12
Imaginemos uma legião de guerreiros cansados, incrédulos e ainda desconfiados se de fato desfrutarão dos louros da vitória: assim podemos vislumbrar os 5.224 heroicos professores que transpuseram as barreiras impostas pelo concurso do magistério promovido pela Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul e cujos resultados foram divulgados na quinta-feira, 17 de maio. Mas não deveriam ter sido 10 mil aprovados, já que 60 mil candidatos, na sua esmagadora maioria lecionando há anos, prestaram os exames para serem nomeados em suas próprias vagas?A sociedade deve estar se questionando sobre esta discrepante situação, fato já comentado pelo secretário da pasta da Educação, afirmando que a discussão passa pela “natureza da formação dos professores hoje em nossas instituições de Ensino Superior”. Tal justificativa, no entanto, desvia o foco mais uma vez das raízes aviltantes do problema. Formar professores deveria ser uma das maiores preocupações das instituições de Ensino Superior, mas não é. E por quê? A resposta a essa questão se encontra na história recente do magistério.
Ser professor carregou, por várias décadas, a insígnia de missão, o que impossibilitou que as lutas por uma carreira que se equiparasse às demais profissões de grau superior pudesse ser instaurada. Quando os mestres começaram o processo de profissionalização de seu trabalho, cada vez mais a situação da escola pública foi-se deteriorando em função da má gestão administrativa dos governos, e cada vez mais os salários dos professores da escola pública foi-se reduzindo com relação ao de outras profissões.
Em consequência dessa situação de profunda descrença na educação, ser professor deixou de ser atraente, pois apertar parafusos em uma fábrica poderia trazer para a mesa mais do que o que o trabalhador da educação recebe no Rio Grande do Sul. Em contrapartida, foram necessários cada vez mais professores, pois o mercado de trabalho passou a exigir formação de pelo menos Ensino Médio ao jovem, o que ocasionou um aumento expressivo no número de escolas públicas no RS a oferecerem a modalidade, passando aos municípios o gerenciamento da educação fundamental. Ora, tais contingências geraram, com o decorrer dos anos, um aumento do número de pessoal contratado, que muitas vezes terminou seu curso superior de forma quase a distância, ou em cursos de final de semana (como se isso fosse surpresa para o governo, que se coloca como decepcionado com o resultado do concurso), para poder se manter. E, além disso, também sabemos que a falta de incentivo salarial – já mencionada – afasta os jovens de maior potencial de seguirem carreiras na área do magistério.
Devemos, sim, refletir sobre o resultado deste concurso. Devemos, sim, refletir sobre por que um professor deve ficar 10, 12 anos, formado, trabalhando como contratado, sem concurso público periódico que lhe permita ser estabilizado na sua função. Devemos, sim, refletir sobre o quanto um professor que trabalha em duas ou três escolas para poder viver com certa dignidade tem de tempo e de recursos para investir em qualificação, possibilitando-lhe sonhar que, um dia, conseguirá estar na lista da SE/RS.
*Marcia Eliza Gugliemi Leite é Professora da rede pública estadual
Fonte; 15º Núcleo CPERS
Por Siden Francesch do Amaral, Professor e Diretor Geral do 14º Núcleo.
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