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terça-feira, 12 de outubro de 2010

As Crianças “mulas”


Passam das 20 h. Enquanto espero tranquilamente um ônibus para me conduzir ao centro de Porto Alegre me deparo com algo aterrador: Enquanto um adulto conduz uma carroça de produtos para reciclagem uma menina de aproximadamente 4 anos de idade empurra a carroça na posição traseira, tentando auxiliar com sua minguada força. O asfalto é irregular, de repente a carroça parece que vai virar sobre o pequeno e indefeso corpo infantil.

O dia é 11 de outubro, véspera do dia das crianças...

Atrás vem outra carroça atulhada de recicláveis. Outras crianças de tenra idade ajudam na condução...

Adultos, crianças, mulas humanas....

Mas, é véspera do dia das crianças...

Quantas crianças “mulas” existirão nesse Brasil imenso?..Quantas carroças de recicláveis? Quanta miséria humana...

Mas, estamos reciclando. Reciclando? Talvez reciclando os excluídos...

Os celulares, a internet venceram a distância global. Difícil é vencer a distância social...

Mas, é véspera do dia das crianças...

Será que receberão brinquedos no dia 12?

Mas, para quê brinquedos?

Elas já têm as carroças... Elas já têm o estatuto da Criança. Que querem mais?

Então vamos brincar. Sim, vamos brincar no dia 12 de outubro. Brincar de quê? Brincar de puxar carroças... Então puxa, cuida o asfalto irregular. Olha vai virar... É um brinquedo e tanto. Vamos reciclar... Agora o excluído é você...

Feliz Dia das Crianças!...

Siden Francesch do Amaral – Professor Estadual

O Sermão da montanha
(versão para educadores)

Naquele tempo, Jesus subiu a um monte seguido pela multidão e, sentado sobre uma grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores se aproximassem.

Ele os preparava para serem os educadores capazes de transmitir a lição da Boa Nova a todos os homens.
Tomando a palavra, disse-lhes:

- "Em verdade, em verdade vos digo: Felizes os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão ssciados. Felizes os misericordiosos, porque eles..."

Pedro o interrompeu:
- Mestre, vamos ter que saber isso de cor?

André perguntou:
- É pra copiar no caderno?

Filipe lamentou-se:
- Esqueci meu papiro!

Bartolomeu quis saber:
- Vai cair na prova?

João levantou a mão:
- Posso ir ao banheiro?

Judas Iscariotes resmungou:
- O que é que a gente vai ganhar com isso?

Judas Tadeu defendeu-se:
- Foi o outro Judas que perguntou!

Tomé questionou:
- Tem uma fórmula pra provar que isso tá certo?

Tiago Maior indagou:
- Vai valer nota?

Tiago Menor reclamou:
- Não ouvi nada, com esse grandão na minha frente.

Simão Zelote gritou, nervoso:
- Mas porque é que não dá logo a resposta e pronto!?

Mateus queixou-se:
- Eu não entendi nada, ninguém entendeu nada!

Um dos fariseus, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem ensinado nada a ninguém, tomou a palavra e dirigiu-se a Jesus, dizendo:
- Isso que o senhor está fazendo é uma aula? Onde está o seu plano de curso e a avaliação diagnóstica? Quais são os objetivos gerais e específicos?
Quais são as suas estratégias para recuperação dos conhecimentos prévios?

Caifás emendou:
- Fez uma programação que inclua os temas transversais e atividades integradoras com outras disciplinas? E os espaços para incluir os parâmetros
curriculares gerais? Elaborou os conteúdos conceituais, processuais e atitudinais?

Pilatos, sentado lá no fundão, disse a Jesus:
- Quero ver as avaliações da Provinha Brasil, da Prova Brasil e demais testes e reservo-me o direito de, ao final, aumentar as notas dos seus discípulos para que se cumpram as promessas do Imperador de um ensino de qualidade. Nem pensar em números e estatísticas que coloquem em dúvida a eficácia do nosso projeto.
E vê lá se não vai reprovar alguém! Lembre-se que você ainda não é professor efetivo...

Jesus deu um suspiro profundo, pensou em ir à sinagoga e pedir aposentadoria proporcional aos trinta e três anos. Mas, tendo em vista o fator previdenciário e a regra dos 95, desistiu. Pensou em pegar um empréstimo consignado com Zaqueu, voltar pra Nazaré e montar uma padaria...
Mas olhou de novo a multidão. Eram como ovelhas sem pastor... Seu coração de educador se enterneceu e Ele continuou... como nós sempre continuamos...

Por Maria Teresinha Gonçalves, Professora Estadual.

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