Ação contra Yeda fala em organização criminosa
É muito forte o texto da ação do Ministério Público Federal contra a governadora Yeda Crusius e outras oito pessoas. Mesmo com o expurgo de tudo o que tem a ver com sigilo bancário, fiscal e telefônico, as 40 páginas liberadas pela OAB durante a madrugada podem ser definidas como "arrasa quarteirão".
Os mortos falamABERTURA DA PÁGINA 10 DE ZH
Seis meses depois de seu corpo ter sido encontrado boiando no Lago Paranoá, o fantasma de Marcelo Cavalcante, ex-chefe da representação gaúcha em Brasília, não dá sossego a seus antigos companheiros de governo. As gravações de conversas dele com Lair Ferst, que Zero Hora publica hoje, ajudaram o Ministério Público Federal a montar o quebra-cabeça para ajuizar a ação civil pública de improbidade administrativa contra a governadora Yeda Crusius e outras oito pessoas.
Não se pode atribuir às gravações valor maior do que têm. São conversas de Cavalcante com Lair, gravadas depois que ele caiu em desgraça no governo, sabe-se lá com que intenção. Têm importância porque ajudaram os procuradores a entender a gênese da fraude do Detran e porque Cavalcante teve papel relevante na campanha eleitoral e no governo.
A existência dos áudios foi revelada pela revista Veja em maio, a partir de uma entrevista da viúva de Marcelo, Magda Koenigkan. Veja disse que ouviu parte das gravações, confirmou a autenticidade, mas não reproduziu trechos. Os áudios têm boa qualidade de som, mas a conversa é confusa. Para entendê-lo, faz-se necessária a tradução que Lair entregou ao MPF na forma de um depoimento escrito que, tudo indica, faz parte de um acordo de delação premiada.
Não se sabe que peso tiveram essas gravações na investigação. Aparentemente, representam apenas fragmentos de um trabalho que envolveu a análise de 20 mil ligações telefônicas e 30 volumes de documentos. Um esboço do depoimento que Cavalcante daria ao Ministério Público Federal também teria sido entregue aos procuradores.
Foi a morte de Marcelo Cavalcante que levou a deputada Luciana Genro e o vereador Pedro Ruas, do PSOL, a tornarem públicas denúncias contra Yeda e pessoas ligadas ao governo e à campanha eleitoral, ainda em fevereiro. Diante da suspeita de que ele tenha sido assassinado – a polícia trabalha com a hipótese de suicídio, mas a perícia não conseguiu precisar a causa da morte –, a deputada deu uma entrevista coletiva atacando o governo e disse que as provas poderiam ser obtidas no MPF. Agora se sabe que Luciana pode até ter trocado nomes e confundido fatos, mas, na essência, sabia do que estava falando.
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