O VOTO DE DOROTEIA

Siden Francesch*

            Naquela noite, anterior à Assembleia Geral dos Educadores Estaduais, Dorotéia enquanto ouvia, saudosamente,  a música de Geraldo Vandré, “Pra Dizer que não Falei de Flores”, meditava sobre o futuro, à carreira que abraçara e que agora estava ameaçada, seriamente,  pelo Governo do Estado. Pensou também na questão do Piso Nacional dos Educadores, que o mesmo Governo, numa tentativa abominável,  procurava transformá-lo numa caricatura irreconhecível.

            A educadora visitara muitas escolas acompanhando seu núcleo do CPERS/SINDICATO durante toda a  semana que antecedeu a Assembleia e pode observar, nos mais variados semblantes,  uma grande indignação com o Executivo Estadual por todas as mazelas criadas na educação nos últimos tempos. Mais uma vez, esse nefasto Governo mentia à sociedade, criando um falso Piso.

            Dorotéia era uma persistente lutadora. Às vezes, não conseguia entender a apatia de alguns colegas, que se  achavam vencidos antes de terminar a luta, que acreditavam, que com o famigerado  “Toma Lá, Da Cá”, da política brasileira, os projetos de Maldades de Final de Ano de YEDA, terminariam passando na Assembleia Legislativa. No entanto, para a educadora, preferir a acomodação à luta, era como, converter-se em pó, antes da morte...  

            A professora sabia que 2009, não era 2008. E que a sucessão dos Números Naturais indicava que o próximo ano seria 2010. E esse, também era o ano da avaliação externa dos parlamentares...

            Dorotéia não iria permitir que esse (des)Governo do Estado transformasse suas Festas Natalinas de 2009  num período de lamentações, de enterro de seus sonhos. Ninguém transformaria seus sonhos em pesadelos, impunemente....

           Então, procurou sua indumentária de luta e  colocou sobre a cadeira. Pegou um adesivo  que estava sobre a mesa, no qual se podia ler: “Em Defesa do Piso e dos Planos de Carreira” e colou à parte frontal da camiseta. Foi ao quarto, apanhou a bandeira  do Sindicato e a juntou aos demais materiais que caracterizavam preparação para mais um  embate. Estava pronta para o dia seguinte...

           Algumas lembranças surgiram à cabeça naquela noite. Lembrou-se de Mansões, das Denúncias do Ministério Público Federal e pensou  em ir ao pátio de sua casa e colher algumas folhas de arruda, quem sabe,  o vegetal tivesse um poder mágico para o confronto, já que o governador de Brasília, conseguiu multiplicar seu patrimônio vertiginosamente, com a denominação da planta da família das Rutáceas ao sobrenome. Pensou em colocar algum dinheiro na meia, como precaução, caso tivesse sua carteira furtada nas proximidades do Palácio, mas desistiu, poderiam confundi-la com algum figurão da política.

            No momento em que a música de Vandré cantarolou “QUEM SABE FAZ A HORA, NÃO ESPERA ACONTECER” pressentiu a decisão que tomaria no dia seguinte,  na Asssembleia da Categoria. Dorotéia não se permitiria morrer na Praia. VOTARIA PELA GREVE.

            Estava disposta a não permitir que um governo sob suspeita, autoritário e truculento,  arrancasse as maiores conquistas dos Educadores. Para evitar, que  esse ataque infame do executivo estadual avançasse, não pouparia esforços. E o ano letivo, só  teria continuidade, com a retirada dos Projetos do Legislativo. Não ficaria de joelhos a espera da guilhotina, vendo o mal prosperar...

GREVE ATÉ A RETIRADA DOS PROJETOS!

  *O Professor Siden Francesch do Amaral é Diretor no 14 Núcleo e Conselheiro 1/1000 da Região no Cpers/Sindicato