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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Semântica e ortografia


Juremir Machado da Silva

O tempo das revoluções acabou. Estamos em reforma. Temos, por exemplo, a reforma ortográfica, também conhecida como Acordo Ortográfico, sobre o qual não há o menor entendimento entre todas as partes envolvidas.

Se entendi bem, fato agora é facto. Ótica virou óptica. Um amigo, português, em desacordo com o acordo diz que estamos errando na interpretação. Concordo. Sempre me apavoro ao chegar de avião em Portugal. O comandante anuncia: atenção para a aterragem. Na saída, outro susto: atenção para a descolagem. Aperto o cinto.

Por aqui, baldeação virou transferência. Terminal de transbordo tornou-se portal. É a guerra semântica.

Tudo isso para tentar falar da proposta do governo para o magistério com algum distanciamento e sem provocar a ira de ninguém. Piso salarial passou de salário inicial sobre o qual se aplicam as vantagens da carreira e virou salário abaixo do qual ninguém pode ganhar, incluídas as vantagens obtidas ao longo da carreira. Concordam?

Um leitor me disse que tem mente matemática e quer que eu explique como pode ser melhor ganhar um piso de R$ 950 do que um piso de R$ 1.500. Simples: R$ 1.500 não é piso. Invento um exemplo totalmente aleatório em termos de valores reais. Se o piso, entendido como salário sobre o qual se aplicam e calculam as vantagens, passar a ser de R$ 950, num aumento de 100%, quem estiver ganhando hoje R$ 1.400, passará a ganhar R$ 2.800 mais as vantagens. Se o piso, como quer o governo, for apenas o valor abaixo do qual nenhum professor pode receber, a pessoa que estiver ganhando R$ 1.400, receberá um abono de R$ 100 e passará a ganhar os já famosos R$ 1.500. Então, o que é melhor: piso de R$ 950 ou ninguém ganhar menos de R$ 1.500? Claro que para quem ganha, digamos, R$ 800, será inicialmente bom negócio, pois receberá um abono imediato de R$ 700.

No futuro, porém, ficará estacionado. Além disso, os que já estão acima dos R$ 1.500, ganhando, por exemplo, R$ 1.510, ficarão onde estão. O plano pode ser bom para o Estado e para alguns professores, mas não é bom para o conjunto dos professores. Dá para aceitar que seja um esforço do governo para corrigir os salários dos que ganham menos. Mas é um esforço que, para ajudar uma parte, penaliza outra, que também não ganha qualquer fortuna. Tenho falado desse assunto no meu blogue do Correio do Povo. Acordei a favor da licença-prêmio. Precisamos de tempo para atualização ou simplesmente para descansar. Não viemos ao mundo só para trabalhar. Sou a favor da obrigatoriedade do ano sabático nas empresas privadas. Nada de Marx. Viva o genro dele, que era a favor do direito à preguiça, ao ócio e ao lazer. É isso.

De facto, tenho um problema de óptica: a minha vista treme na hora da aterragem e da descolagem. Chego a confundir ortografia com hortografia. Sem contar que sempre que escrevo facto e óptica quase faço xixi nas calças de tanto rir. Tomei uma decisão: não direi mais guri. De agora em diante, é putinho. Vou gritar assim:

- De facto, o Brasil ainda é um país de putinhos.

Juremir Machado da Silva é professor universitário e jornalista

 http://www.cpers.com.br/index.php?&cd_artigo=260&menu=36

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