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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Uma categoria Modesta

Siden Francesch do Amaral*

Uma noite dessas, navegando na internet, me deparei com a oferta de vários concursos, em nível municipal, estadual e federal. Muitas dessas vagas oferecidas são tentadoras por apresentarem um salário compensador.

Por curiosidade comecei a pesquisar as ofertas de empregos examinando a faixa de salários, a carga horária de trabalho semanal e a escolaridade exigida.  Para que você leitor acompanhe melhor minha linha de raciocínio irei declinar alguns exemplos:

       a)   Cargo: Assistente Técnico-Administrativo; Escolaridade: Ensino médio concluído ou equivalente; Remuneração: Até R$ 2.590,42 (Receita Federal); (inscrições encerradas);

       b)     Analista-Tributário da Receita Federal do Brasil; Escolaridade: Curso Superior concluído, em nível de graduação; Remuneração inicial:  subsídio mensal no valor de R$ 7.624,56; (inscrições abertas, qualquer curso superior);

      c)      Correios: vários cargos para Ensino superior com salário inicial de 3.431,06; (aguardando publicação do edital).

Estes são apenas alguns exemplos. Então, fiquei pensando com meus botões: Nós, trabalhadores em educação, estamos  lutando pelo modesto piso (o “p” minúsculo é proposital) de R$ 950,00  para 40 h. E a governadora do Estado lidera uma ADIN no STF alegando a impossibilidade de pagar o piso. Perdoem os mais sensíveis, mas isso não é apenas falta de vontade política ou problema de Gestão, é também, na verdade, Falta de Vergonha. 

Pois, comparando então: O salário de um professor com o piso Nacional, com graduação e mantido o nosso Plano, para início de Carreira seria em torno de R$1.700,00,  o que comparado com  os salários acima, não deixa de ser ridículo. Um governo que afirma que não pode pagar um modesto piso (R$ 950,00)  para os educadores, como esse, não tem competência para governar e seria mais digno, que em vez de apelar para o STF, renunciasse ao cargo.

Seria cômico, se não fosse trágico, quando alguns governantes parecem confundir Piso com Teto, diferença fácil, para qualquer  semi-analfabeto, embora alguns chefes de executivo tenham dificuldade nesse entendimento. Então, só posso concluir, que o analfabetismo funcional também já afeta os nossos governantes e, diga-se de passagem, inclusive aqueles com Curso Superior. 

Outra ironia é quando se negam a cumprir o 1/3 de horas atividades. Desconheço outra profissão em que trabalhador leve trabalho para casa, como corrigir provas, preparar aulas, fechar notas... Aliás, nos concursos citados acima, a carga horária é de 40 h semanais,  e o servidor,  não leva nada para fazer em casa. Na minha modesta opinião, acredito que a fração de horas atividades deveria ser ½ (50%) e meu argumento é simples: Por que o professor tem que trabalhar de graça em casa?  Uma profissional aqui perto de casa, cobra por peça a roupa que leva para passar na sua residência. Poderíamos cobrar por prova ou por  trabalho corrigido nos momentos que deveriam ser de nosso descanso. O que acham? Repito, por que temos que trabalhar de graça em casa?

Não podemos  mais aceitar a desculpa de falta de dinheiro, pois já sabemos que quando os governantes querem,  o mesmo aparece, não falta e até sobra, inclusive para mobiliar a casa da governadora.

Todos os fatos elencados me levam a concluir que somos realmente, uma categoria muito modesta em nossas pretensões. Um piso de R$ 950,00 é o mínimo que se pode exigir à dignidade da categoria; 1/3 dedicado para atividades significa, ainda, que iremos trabalhar de graça em momentos, que deveriam ser de nosso lazer. Está comprovado que dinheiro não falta. Choque de Gestão, em vez de perpetuar a miserabilidade de uma categoria, deveria ser também uma forma de resgatar profissionais, financeiramente por anos massacrados,  que têm como missão conduzir a sociedade a novos caminhos. 


 Um governo que reajusta seu salário em 143% não tem respaldo moral para falar em dificuldade de gestão financeira. Desculpem se insisto, não é falta de dinheiro, é sim falta de vergonha. E o magistério tem que deixar essa modéstia de lado. Não se deixem iludir com essa conversa de Crise. Que crise é essa, que permite aumentar o salário da governadora, em números redondos, de R$ 7.000,00 para R$ 17.0000,00? Chega de Crise sempre para os mesmos.

Para que não digam que só critico a governadora YEDA, essa crítica  vale também para os Prefeitos, inclusive aqueles que se dizem de esquerda, que se apoiando na desculpa da Crise, fazem manobras para destruir os Planos de Carreira dos Educadores. Começaremos a acreditar na famigerada Crise, quando os Prefeitos, Governadores, Deputados e Vereadores reduzirem seus polpudos salários em 50%. E por falar em reduzir salários, existe uma infinidade destes, com ampla margem de “gordura”, que podem ser reduzidos. Dêem uma olhada nos altos salários, do Judiciário, executivo e legislativo... Chega de balela, a maioria destes salários, o funcionário que o percebe, desempenha uma função que tem menos desgaste físico e intelectual do que os educadores. E antes que me venham com a conversa sobre responsabilidade do cargo, pergunto: Alguém consegue ser governador, prefeito, etc... sem passar pelo trabalho do professor?

Concluo, afirmando que a dificuldade maior,  para que a categoria avance na conquista de sua dignidade profissional,  é contentar-se com muito pouco. Temos que deixar nossa modéstia de lado e exigir que nos paguem, pelo menos, um pouco que nosso trabalho vale. Chega de reivindicar migalhas.  E não caiam nessa falácia de Crise. Para os altos salários nunca existe Crise...

Siden Francesch do Amaral é Professor e Diretor no 14º Núcleo do CPERS/Sindicato e Membro do Conselho Geral da Entidade

Um comentário:

Angela Maieski disse...

Por que será que faltam tantos professores? Concurso, nos quais a exigência é ensino médio, com salários acima de R$ 1.000,00 são frequentes (só para comparar ao piso)e sem precisar levar trabalho para casa... Só discordo em um ponto, não acho certo receber por prova, mas seria bom receber por aluno, dai talvez as salas de aula não ficassem tão lotadas...